Guilherme Coelho, diretor do projeto.
Porque filmar José Serra?
É ativismo político. Todos nós precisamos participar no que acreditamos, com informação e diálogo. Uma maneira que eu tenho de contribuir é contar histórias do cara em quem eu vou votar. Precisamos saber as histórias de vida dos candidatos à presidência da República.
Como personagem, o Serra é um prato cheio. Por onde passou foi protagonista, foi ousado, quase abusado. É como um Onde Está o Wally? da vida brasileira e latino-americana. Da Mooca, pra UNE, perseguido por dois golpes militares, voltando ao Brasil com a redemocratização, passando pelo Ministério da Saúde e pelo Governo de São Paulo. Tem muita história.
E tem esse lance de ele ser arisco, avesso à exposição desnecessária, ser notívago, escrever invejavelmente e achar que entende de cinema.
Filmar é muitas vezes uma desculpa para se interessar. A poucos dias das eleições de 2002 eu estava em meio a uma multidão, como eleitor, filmando o comício do Lula. Foi emocionante. Ali era Lula. Infelizmente, quando chegamos no governo vimos que aquele PT que admirávamos já estava desarticulado. Nestes últimos oito anos as pessoas mais interessantes do PT ou deixaram o partido ou não tiveram papéis relevantes no governo.
Mas o que é imperdoável é que o Lula não usou sua popularidade para inovar em políticas – expandir os limites do possível, que é o grande desafio na política. Nem realizou com o Congresso as reformas que sonhávamos e que ainda precisamos fazer. Apesar disso, ele ainda é um líder irresistível. Mas pensar num governo do PT de hoje, sem o Lula, é pra ficar deprimido.
Agora é Serra. Depois de um presidente festivo, precisamos de um presidente que seja diligente, faça o dever de casa e não apenas jogue para a torcida.
Além disso, independente de que lado você estiver neste Fla-Flu, há de se reconhecer que é saudável a alternância de poder – como defendeu o Ferreira Gullar na entrevista que fizemos com ele para estes filmes.
Agora é a chance do país mudar de patamar, continuar esta evolução que estamos vivendo só que agora com mais rigor e profundidade. Já superamos o conceito de revolução. E evolução é Serra. Não sei se teremos essa oportunidade de novo: estabilidade institucional, pungência econômica, protagonismo internacional com Copa do Mundo e Olimpíadas.
Há anos nos vemos e somos vistos como o país do futuro. Agora é trabalhar pra isso – pra sermos o presente desse futuro. Vamos precisar de experiência e expediente, fazer o dever de casa e entregar – sem deixar as coisas incompletas.
Como começou o projeto?
O projeto é uma ideia do meu pai [Ronaldo Cezar Coelho], que é amigo do Serra há mais de 20 anos, desde que serviram juntos na Constituinte de 1988. Meu pai foi o cara que levou pela primeira vez a ideia dos genéricos para o Serra, quando ele era ministro da Saúde. Acho que foi desde então que ficaram próximos.
Quando começamos a pesquisa, lendo os textos e artigos escritos pelo Serra, fiquei muito impressionado. O Serra representa o melhor legado da esquerda: o progressismo, a disposição em reformar nossas instituições em direção à igualdade de oportunidades – um valor ainda pouco debatido entre nós. É um candidato de opinião, que detesta “papinho”, mas que apesar disso ainda consegue comunicar em escala nacional.
Mas foi uma dimensão pessoal que me fez parar tudo e mergulhar de cabeça nesse projeto. Meu pai entrou na política em 1986 e eu cresci conhecendo de perto essa ojeriza ao político, ao homem público – que é tantas vezes justificada pelo noticiário. Mas em determinado momento entendi que esse sentimento, quando generalizado, não nos serve como sociedade. Do policial ao senador, se esculhambarmos todos, vamos continuar tendo a qualidade de serviços públicos que temos.
Então, a solução republicana é nos informarmos, participarmos, e fugirmos das respostas fáceis. As mídias digitais são ótimas pra essa participação, esse engajamento cívico, pois botam as pessoas em contato, dão informação. É a tal mídia cívica. O MIT tem até um centro de estudos disso.
Precisamos nos engajar, discutir políticas em termos concretos e não política – no abstrato, com bravatas e mistificações. Precisamos debater, trazer conteúdos, avaliar o que é importante pra cada um de nós como indivíduos e como sociedade. Por exemplo, lutaremos (como eu gostaria) para que a escola fosse um lugar que integrasse jovens de diferentes classes sociais?
Estou fazendo isso porque acredito que o Serra é quem melhor responde às questões do país hoje. O mais importante é que sejam transparentes os motivos que nos levaram a este trabalho. Como disse o Veríssimo no livro de conversas com o Zuenir e Dapieve, “tem que se ter as posições políticas claras”. (O que nos faz lembrar que pena é não termos uma imprensa que endosse candidatos abertamente.)
No geral acho que não fizemos estes 12 filmes para pedir voto, mas para gerar discussão e conhecimento sobre história de vida do Serra. O voto é conseqüência ou não. Como disse o Pedro Cezar, co-diretor do projeto: pra certas pessoas voto é que nem beijo, se pedir não ganha.
Como tem sido o processo?
Parafraseando o que já foi dito sobre o Joaquim Pedro de Andrade, o processo tem sido denso, tenso e intenso – como não poderia deixar de ser com este personagem. Ao mesmo tempo, e para minha surpresa, ele é também afável, verdadeiramente interessado no que as pessoas têm a dizer. Ele se alimenta disso – dessas novas informações.
A grande surpresa for ter trabalhado com o Pedro Cezar, co-diretor e meu parceiro nessa jornada [e diretor dos documentários “Fábio Fabuloso” sobre o surfista Fábio Gouveia e “Só 10% é mentira”, sobre o poeta Manoel de Barros]. Como cinema e documentário são esforços colaborativos, é necessário curtir com quem se trabalha. A equipe é ótima, mínima, atenta e guerreira, como deve ser.
Acompanhe a Tragetória de José Serra em Video,
no Link abaixo.
http://www.retratosdoserra.com.br/
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