26 de março de 2011

Irã: EUA, por sujos, não podem falar dos mal lavados


POR JOSIAS DE SOUSA *

Diz um velho provérbio chinês: sempre que tiver dificuldades para se defender de uma acusação, recorra a um velho provérbio chinês.
Outro provérbio chinês ensina: quando não existir um provérbio chinês adequado à sua defesa, invente um.
Acossado pela ONU, o Irã inventou o seu: em matéria de direitos humanos, a proximidade é conivente; a distância é crítica.
Um dia depois de a ONU ter nomeado um investigador especial para esquadrinhar as violações praticadas sob o regime dos aiatolás, Teerã apontou para Washington.
O governo iraniano enxerga digitais da Casa Branca na resolução que o Conselho de Direitos Humanos da ONU acaba de aprovar, com o voto do Brasil.
Argumenta, em esência, que os EUA, por sujos, não têm autoridade para falar dos mal lavados.
Recorda os abusos cometidos por militares americanos no Iraque e no Afeganistão. Menciona os cárceres da base de Guantânamo.
Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, declarou:
"As políticas dos EUA, tanto em atitude como em palavras, sempre foram paradoxais e baseados em padrões duplos. A recente resolução exemplifica claramente esse comportamento".
Acrescentou: "O objetivo da resolução é pressionar a República Islâmica e desviar ainda mais...a revisão periódica pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU da situação dos direitos humanos no mundo".
O envio de um investigador da ONU ao Irã foi aprovado por 22 votos a favor, 7 contra e 14 abstenções.
Entre os que disseram “não” há notórios violadores de direitos humanos. Países como Cuba e China.
No rol dos que disseram “sim” também há países problemáticos. Em sã consciência, quem pode negar que os EUA têm suas mazelas?
Quem há de erguer a voz para negar o diuturno desrespeito aos direitos humanos nas delegaciais e nas cadeias brasileiras?
O que diferencia o Irã é a dose do veneno. Ali, sob Mahmoud Ahmadinejad, esqueceu-se de maneirar.
A decisão da ONU foi um acerto. O apoio do Brasil à resolução, um avanço notável.  
Nesse campo, porém, pode-se inventar mais um provérbio chinês. São tantos os chineses que um deles já deve ter dito algo assim:
O problema de discutir com um maluco é o risco de a platéia não distinguir quem é quem.
* < http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ > 

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