Por Fernando Gabeira *
Nova Friburgo- O bairro de Dilma da Silva, Córrego Dantas, o mais atingido pelas enchentes de janeiro irritou-se com a demora do governo e resolveu limpar as casas e as ruas em regime de mutirão. Depois de dois meses e meio de trabalho, Dilma e o restante do bairro conseguiram quebrar a barreira burocrática de trazer as máquinas para cá.
Muita gente ainda vive no dia 12 de janeiro, sem saber o que acontecerá no futuro- afirma Natália Cristina da Silva, vice-presidente da Asssociação de Moradores de Duas Pedras, outro bairro castigado pelas cheias de janeiro. Segundo ela, não há data para nada.
Os dois bairros de Friburgo, com mais ou menos 3 mil pessoas cada, ainda sofrem, em algumas casas, com falta de luz, água e telefone. Dilma da Silva, por exemplo, vive com quatro netos e um filho e seu grande drama é uma escada de madeira encostada no barranco. Sem ela, não sai nem entra em casa e já escorregou e caiu uma vez.
Ela tem 65 anos e trabalhava numa firma de limpeza ligada à Queiroz Galvão, mas a vida se tornou tão difícil que resolveu ficar em casa, onde há muito o que fazer. No dia em que a visitei, acabara de lavar a roupa dos netos e do filho solteiro, Ednaldo
Um problema novo nos bairros onde ainda há entulhos e casas abandonadas é a dengue. No Hospital Raul Sertã, em apenas duas horas, foram pedidos 20 novos exames de sangue para detetar a doença.
Um prédio de dois andares desabou há um mês em Duas Pedras que é próxima a Córrego Dantas. Tornou-se uma atração turística porque os escombros permanecem por lá. Foi pichado com expressões como “esta parte para cima”, “alugo e não precisa fiador”.
Numa audiência pública na Câmara de Vereadores foi possível ver como autoridades e moradores não se entendem quanto ao ritmo da reconstrução. Muitos reclamam de que casas foram condenadas sem uma explicação; outros, como na Rua Benjamin Constant, em Duas Pedras, reclamam de que casas que deveriam ser condenadas ainda estão de pé.
A coordenação geral do processo foi dada pelo governador Cabral a Affonso Monnerat, um ex-prefeito de Bom Jardim. Mas os resultados ainda são pequenos, exceto pela limpeza que ainda não foi concluida. Na tarde de segunda-feira, ainda presenciei a retirada de movéis e o trabalho de limpeza mais elementar. Há casas em que a sujeira estufa portas e janelas e nem foi tocada depois de janeiro
Um dos poucos lugares onde a reconstrução avança é o Hospital São Lucas, uma das referências para doenças cardíacas no interior.A outra está em Itaperuna, no noroeste do estado, que vive uma grande crise.
O que torna o cenário mais parecido com os romances de Garcia Marquez é o prefeito de Friburgo que não aparece mais em público.Ele tem 85 anos, sofreu um acidente em Lausanne, na Suiça, e nunca mais deu as caras, aceitou entrevista ou se deixou fotografar.
No momento, o grande problema é a definição do que vai ficar de pé, o que será demolido nos dois bairros. Muitas casas permanecem fechadas, com caixas d’água sem tampa. Um grande número das 2080 famílias cadastradas está vivendo do aluguel social em Friburgo, cujo valor mensal é de R$500 . Mas a maioria não está safisfeita pois afirma que nos bairros destruidos havia empresas e elas vão abandonar seus lugares se não houver um forte trabalho de reconstrução. O programa Minha Casa Minha Vida tinha 5 mil inscritos, mas depois das chuvas, o número deve crescer para 8.200
Meu objetivo era alcançar Teresópolis mas as visitas em Friburgo levaram tempo. Caiu a noite e ainda não tinha conseguido visitar toda área antes enlameada, agora coberta de uma poeira assustadora.
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