19 de março de 2011

14 motivos que explicam por que o colapso econômico japonês já começou


Japan-Tsunami-2011.jpgO colapso econômico do Japão já começou.  A amplitude da devastação está agora se tornando mais clara e muitos já estimam que este será o mais caro desastre natural da história humana moderna.  O tsunami que atingiu o Japão no dia 11 de março adentrou e varreu mais de 9,5 km da faixa de terra que vai do litoral ao interior, destruindo praticamente tudo pelo caminho.  Incontáveis milhares de pessoas morreram e comunidades inteiras foram completamente aniquiladas. 
(Veja estas impressionantes e assustadores imagens do antes e depois do Tsunami. Pressione o botão direito do mouse sobre a divisória central de cada foto e deslize o cursor para a esquerda e para a direita, e você terá uma ideia da devastação ocorrida).
Logo, como uma nação cujo governo está afogado em dívidas poderá reconstruir dezenas de cidades que foram repentinamente destruídas?
Muitos analistas da grande mídia estão dizendo que a economia do Japão irá se recuperar rapidamente dessa calamidade, mas eles estão simplesmente errados.  O tsunami dizimou milhares de quilômetros quadrados.  A perda de casas, carros, empresas e riqueza pessoal é praticamente inimaginável.  Vários anos serão necessários para se reconstruir as estradas, as pontes, as ferrovias, os portos, as linhas de transmissão de energia e os sistemas de abastecimento de água que foram destruídos.  Várias seguradoras e instituições financeiras japonesas serão totalmente dizimadas como resultado dessa enorme tragédia. 
É claro que nos dias vindouros a população japonesa irá se unir e trabalhar duro para reconstruir o país, mas a verdade é que é impossível "se recuperar rapidamente" de tamanha e tão maciça perda de riqueza, de ativos e de infraestrutura.
Apenas pense no que aconteceu após o Furacão Katrina.  A economia de Nova Orleans se recuperou rapidamente?  Não, e ainda hoje há algumas áreas de Nova Orleans que mais se parecem com zonas de guerra.
E o desastre japonês é muito pior.
A verdade é que esse será um daqueles momentos definidores da história do Japão.  Centenas de quilômetros ao longo da costa do Japão foram completamente devastados.  As autoridades estão tendo dificuldades até para enviar comida e água para algumas daquelas áreas.
Mesmo antes dessa grande tragédia, o Japão era uma das nações que estava no limiar de um colapso econômico nacional.  Sua economia estava estagnada há mais de uma década e sua dívida pública estava acima de 200% do PIB.  Agora a economia japonesa vivenciou um choque do qual poderá jamais se recuperar verdadeiramente.
O Banco Central do Japão já começou a inundar a economia japonesa com novos ienes, e isso de fato pode gerar números animadores para o "crescimento econômico" até o final do ano.  Porém, o fato de haver mais dinheiro circulando — algo que faz crescer as estatísticas do PIB, que calcula apenas o volume do gasto agregado — não significa que esteja sendo criada mais riqueza ou que a economia japonesa esteja em melhor forma.
A verdade é que um tsunami de novos ienes não irá desfazer os danos que o tsunami de água provocou.  Uma maciça quantidade de riqueza dos japoneses foi exterminada por esse desastre.  Uma economia que já estava cambaleante irá agora muito provavelmente ficar no limbo.
É ótimo ser otimista, porém a dura e fria realidade da situação é que esse foi um golpe decisivo na economia japonesa.  A amplitude da devastação é simplesmente grande demais.  Trata-se verdadeiramente de um total e completo pesadelo.
A seguir, 14 razões que explicam por que o colapso econômico do Japão acabou de começar.
#1 O Banco Central do Japão anunciou sua decisão de inundar a economia japonesa com 15 trilhões de ienes, o equivalente a aproximadamente 183 bilhões de dólares.  Isso irá fornecer uma boa liquidez no curto prazo, mas também poderá jogar o Japão em um percurso altamente inflacionário — afinal, a existência de mais dinheiro não significa a existência de mais recursos físicos.
#2 O índice Nikkei, que representa a média das 225 ações transacionadas na bolsa de valores do Japão, e que se mantém historicamente estável há mais de 15 anos, vem caindo e só na segunda feira caiu mais de 6%.  Embora flutuações para cima possam vir a ocorrer, até mesmo com grandes ganhos um só dia, a tendência é que, à medida que a amplitude total da destruição se torne mais evidente, mais declínios na bolsa venham a ocorrer.
#3 As refinarias de petróleo em todo o Japão foram severamente danificadas ou destruídas.  Por exemplo, seis refinarias que em conjunto processam 31% de todo o petróleo comprado pelo Japão estão totalmente fechadas, pelo menos por ora.
#4 O total do estrago ocorrido nas estradas, pontes, portos e ferrovias está estimado em bilhões de dólares.  Os danos ocorridos nas linhas de transmissão de energia e nos sistemas de abastecimento de água são virtualmente inimagináveis.  Vários anos serão necessários para se reconstruir a infraestrutura do Japão.
#5 Neste momento, o fluxo de bens e serviços em muitas áreas na região norte do Japão está em velocidade rastejante, e é provável que continue assim por um bom tempo.
#6 Muitas cidades ao longo da costa leste do Japão foram, em sua essência, completamente destruídas.
#7 A indústria nuclear do Japão está basicamente morta agora.  Mesmo que não venha a ocorrer um completo derretimento nuclear, os eventos que têm sido relatados até agora já foram suficientes para assustar as pessoas e gerar uma onda de protestos públicos maciços contra a energia nuclear no Japão.
#8 O Japão irá precisar de ainda mais petróleo e gás natural no longo prazo para substituir a produção de energia nuclear que será perdida.  Antes dessa crise, 29% da eletricidade produzida no Japão vinha da energia nuclear.  Faça as contas.
#9 O Japão é o segundo maior portador de títulos da dívida americana depois da China, mas irá mudar.  O Japão atualmente possui US$ 882 bilhões em títulos do Tesouro americano e ele terá de liquidar grande parte desses títulos para poder financiar a reconstrução do país.
#10 Várias fábricas no Japão estão fechando, pelo menos temporariamente.  Por exemplo, a Nissan fechou quatro fábricas e a Sony, seis fábricas.
#11 A Toyota interrompeu toda a produção em suas fábricas japonesas no dia 14 de março, dizendo que a interrupção duraria pelo menos até o dia 16.  Mais tarde, anunciou que retomaria parte das atividades na próximaquinta-feira, porém, logo depois anunciou que vai manter todas as suas 12 fábricas fechadas até o dia 22 de março.
#12 Um número substancial de instituições financeiras e seguradoras japonesas certamente será devastado por esse pesadelo.
#13 O déficit orçamentário do Japão já estava em 9% do PIB antes dessa tragédia.  Agora o governo terá de pegar emprestado ainda mais dinheiro para financiar a reconstrução de sua infraestrutura.
#14 A dívida pública do Japão já estava bem acima dos 200% do PIB antes dessa tragédia.  Até que ponto dessa zona perigosa ela pode ir impunemente?
Lamentavelmente, se a economia do Japão for para os tubos, isso terá um efeito enorme sobre o resto do mundo também.  Por exemplo, o Japão não mais será capaz de continuar comprando enormes quantias de títulos do Tesouro americano.  Sendo assim, quem ficará com as sobras?  O governo americano vai implorar à China para que ela lhe empreste ainda mais dinheiro do que já empresta?  Ou será que o Federal Reserve vai preencher essa lacuna e irá ele próprio se encarregar de "comprar" também essa fatia da dívida do governo americano?
No momento, existem mais perguntas do que respostas; porém, o que está realmente claro é que a economia japonesa sofreu um golpe incapacitante.  Resta apenas a esperança de que essa tragédia irá fazer aflorar o que há de melhor no povo japonês.  Mas não importa o quão resilientes eles sejam, a verdade é que estamos diante de um impacto do qual nenhuma nação conseguiria se recuperar rapidamente.
Esperemos que os estragos econômicos dessa tragédia sejam contidos e não se espalhem para o resto do mundo.  A economia global já está com problemas suficientes para manter todo mundo insone, e só nos resta a esperança de que essa tragédia não provoque uma nova cascata de falências econômicas que se espalhe pelo globo.

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