10 de agosto de 2010

Varizes em debate


E o primeiro debate eleitoral semana passada na televisão, hein? Quem viu e não viu ainda comentava alguma coisa ontem, culpando o horário pela pouca audiência. Tarde da noite, numa quinta-feira, a maioria que trabalha estaria sonolenta ou acordada só mesmo para torcer por seu time de futebol; no jogo de outro canal. Já os apreciadores de confrontos de idéias, que se mantiveram acordados até o fim, se decepcionaram.
Não, não houve baixarias. O evento frustrou também (felizmente!) quem associa briga política, em palco armado, a uma arena sanguinária com adversários buscando a jugular do outro. Porém, os que resistiram ao sono para conferir a abertura da temporada de debates, o que viram? Dilma Rousseff não virou mulher-Lula, José Serra continuou Serra e Marina Silva manteve as prometidas garras de jaguatirica encolhidinhas.
Quem deu susto foi o octogenário Plínio Arruda, o "radical", de volta para o futuro. Chegou revitalizado, batendo em polianas e atirando à queima-roupa em seus rivais. O resultado foi inesperado, especialmente, para ele mesmo. Salvaram-se todos.
O melhor foi a repercussão no dia seguinte. Falava-se, por exemplo, de Serra, o "hipocondríaco", a relembrar os antigos mutirões de cirurgias de catarata, próstata e varizes. Bastante gente defendia esses mutirões sob o argumento de que seria recomendável "operar os olhos" das pessoas que estivessem com a visão embaçada.
Ah, e as varizes! O genial Nelson Rodrigues fez o desfavor de estigmatizar cruelmente pernas femininas com varizes. Aumentando o sofrimento das mulheres com veias dilatadas. Quase sempre por causa de hereditariedade ou gravidez; por carregarem muito peso, trabalharem em pé, sentadas por horas a fio ou executarem tarefas inadequadas para elas. A doença varicosa, além de produzir dor física, gera desconforto estético e preconceito.
Ao prometer mutirão para tratá-las, Serra se comprometeu com o amor-próprio das mulheres pobres e das classes emergentes; principais vítimas das veias doentes. Quer dizer, ele se demonstrou disposto a elevar a autoestima feminina. Mais ainda: deixou transparecer verdadeiramente sua origem de uma família simples. Caso contrário, como identificaria as varizes como um drama?
Já Plínio, o "radical", parece se recusar a enxergar a defasagem de sua máquina do tempo. Desejaria um debate ideológico, como os que marcaram o período imediato pós-ditadura? Quando as pessoas assistiam aos debates, após décadas proibidas de falar livremente, como uma espécie de catarse?
Com a esquerda na situação e na oposição há 16 anos, a briga atual é por alternância de poder entre as esquerdas! E por princípio democrático. Embora o presidente mais popular da história do país se recuse a admitir isso. Lula prefere forçar a barra para eleger a Dilma, desrespeitando as biografias de ambos. Seria mais bacana se sua ex-ministra se elegesse presidenta de forma mais espontânea.
Até porque essa conversa de "mãe que vai cuidar do povo", sei não... Desde que me entendo por gente esse tipo de papo sempre foi de direita populista. De quem quer dominar. A intenção é eleger uma mulher? Então, tá. E a outra candidata, a Marina? Ela é a cara nativa com propostas cuidadosas para o bem-estar das famílias brasileiras.

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