28 de março de 2011

'Dever a cumprir'


 Por Edgar Flexa Ribeiro *

Somos ótimos de “campanhas”. Desde Osvaldo Cruz, a varíola e a febre amarela; o combate à paralisia infantil, a bem sucedida campanha contra a AIDS, o dia nacional da vacinação contra o sarampo, as eleições com a invenção da urna eletrônica, e assim por diante.
Sabemos mobilizar, organizar forças e recursos para enfrentar situações que se resolvem no curto prazo.
Somos um fracasso em rotinas e em tudo que demanda tempo e determinação para que surjam os frutos. Temos vivido assim há algum tempo, com breves e fugazes momentos de exceção que apenas confirmam a regra.
Pensar e construir Brasília são um exemplo. Mas administrá-la com visão de futuro e providenciar para que seu crescimento se desse de forma ordenada, isso não deu. Caímos no natural.
Aqui no Rio com a Barra da Tijuca foi a mesma coisa. Caminho natural para o crescimento da cidade foi ocupada sem os acessos necessários e – pasmem! – nem teve esgoto sanitário.
Conservar ruas, estradas, passarelas, obras, prédios e instalações parece impossível. As rotinas de conservação do patrimônio público ficam muito além do que somos capazes de fazer.
Agora estamos chamando tudo que falta ao país de infra-estrutura: trabalhos que exigem longa maturação, muitos recursos e firmeza de propósito até que se colham os resultados.
Transportes em geral, rodovias, ferrovias, portos, transporte urbano de massa, aeroportos e tráfego aéreo. Urbanização, habitação popular, ordenamento da expansão urbana.
Saúde e educação cabem aí também: tudo isso precisa persistência, determinação e tempo até que o resultado apareça.
E continua a desconversa de propalar a solução desses problemas desagradáveis, dando-lhes uma fantasia de fugacidade e premência oportunista.
Providências desarticuladas podem ser reunidas sob um apelido, como PAC, ou justificadas por fatores episódicos, como Copa do Mundo ou Olimpíadas.
Mas o fato é que, apesar da propaganda, não há sinal de que se esteja pensando em nada no país para além do horizonte de 2016.
Pode ser ainda uma decorrência da inflação, que liquidou com a possibilidade de planejar a prazos longos.
Pode ser a herança – essa sim, maldita - de um regime colonial no qual pouco importava o que ficava para trás, depois que o colonizador tivesse levado o que queria.
Mas é uma encrenca. E um desafio para as lideranças nacionais que se dispuserem a pensar mais adiante do que a próxima eleição.

* Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação


http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/03/28/dever-cumprir-371363.asp

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