Pense numa arte, e o nome dele estará lá. Literatura? Já escreveu vários livros e está terminando mais um - no dia 21 de setembro, início da primavera, lança "A primavera do dragão", sobre a juventude de Glauber Rocha. Teatro? Vem aí um musical baseado numa obra sua. Cinema? Será rodado um filme inspirado num best-seller seu. Música? Perdeu a conta das canções que fez, dos artistas que revelou, dos discos que produziu. Não é só: seu talento se espalha pela TV, pelo rádio e pela imprensa - tem um programa em 15 emissoras de rádio e uma coluna toda sexta-feira no GLOBO, mesmo dia em que vai ao ar sua coluna televisiva que encerra o "Jornal da Globo".
- Isso me lembra de uma amiga baiana. Quando ela me disse que estava namorando, perguntei se era com menino ou menina. Ela, toda dengosa, com aquele sotaque delicioso, respondeu: "Sou multimídia..." - diz, com bom humor, o jornalista, compositor, escritor, roteirista e produtor musical Nelson Motta.
Sinto-me como aqueles malabaristas chineses que equilibram vários pratos na vareta, muitas vezes rodando seis deles. Mas isso não me aflige. Não é esforço, é escolha
No caso de dele, ser um artista multimídia e trabalhar tanto está longe de ser um fardo.
- Sinto-me como aqueles malabaristas chineses que equilibram vários pratos na vareta, muitas vezes rodando seis deles. Mas isso não me aflige. Não é esforço, é escolha. Divirto-me trabalhando. Mas só faço o que gosto. E odeio rotina. Por isso fico pulando de galho em galho.
Outro segredo para a produtividade está em trabalhar em casa. E fazer as coisas com antecedência.
- Sou indisciplinado e transgressor por natureza, mas tenho que controlar, senão a vida vira um inferno.
Romance de formação
O ano promete ser mesmo movimentado. O livro sobre Glauber Rocha é um romance de formação, com final feliz, já que aborda a vida do cineasta até a criação de "Deus e o diabo na terra do sol" e a consagração internacional do diretor, com a exibição do filme no Festival de Cannes. Será lançado pela Objetiva e virá recheado de fotos.
- Queria mostrar o retrato de um artista quando jovem. Emocionei-me com a precocidade, a vitalidade, o idealismo, a potência, a inocência de Glauber - diz Motta. - Ele tinha 22 anos quando começou a rodar o filme. Levantou dinheiro e fez um épico, levando 500 figurantes para Monte Santo (BA).
Vários personagens aparecem nas páginas do livro: João Ubaldo Ribeiro, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Caetano Veloso, Luiz Carlos Barreto.
- Na juventude, esses caras são sensacionais, porque são completamente irresponsáveis. São de uma ambição artística delirante. É uma geração no seu momento de florescer.
No fim de julho, será levado aos palcos seu livro "Vale tudo - O som e a fúria de Tim Maia". Além de ser transformada em musical, a obra vai dar origem a um filme dirigido por Mauro Lima (de "Meu nome não é Johnny"). As filmagens acontecem ainda este ano.
Em agosto, é a vez de estrear na TV Globo o seriado "O brado retumbante" (título provisório), de Euclydes Marinho, que chamou Nelson Motta, Guilherme Fiuza e Denise Bandeira para escreverem com ele. O seriado fala de um presidente acidental: um político que assume o poder no último ano de mandato, após a morte do presidente e do vice num acidente. Não acontece no passado, nem no futuro, e sim num universo paralelo. Já foram entregues dois dos seis episódios.
- Não é uma paródia, nem é baseado em governo nenhum. Ao mesmo tempo, é baseado em todos. É sobre a vida pública e privada de um presidente ficcional. Tem drama, tem falso documentário, mas é mais para comédia. Vai ser muito divertido.
Não será o único texto de Nelson Motta a chegar à televisão. Seu livro "O canto da sereia - Um noir baiano" vai virar minissérie, escrita por George Moura e Patricia Andrade, com supervisão de Gória Perez.
Mais que a TV, é o cinema que tem ocupado boa parte das atenções do jornalista, compositor, produtor musical. Desde que saiu o livro sobre Tim Maia, ele foi procurado por muita gente interessada em levá-lo às telas. Preferiu não se envolver com o roteiro, que acabou assinado por Antonia Pellegrino.
- Não conseguiria resumir uma história de 400 páginas em 90 minutos - justifica.
É diferente do que acontece com o musical, que será dirigido por João Fonseca. Neste caso, ele ficou com a função de escrever.
- Aí é diferente, é recriar 20 músicas sensacionais e 20 causos. Vai ser um musicalzão da Broadway, com sete músicos em cena, seis atores e dois Tim Maia.
O musical começa com a morte do cantor. É recriado o último show, no Municipal de Niterói, quando ele desaba no palco. Enquanto está caído, numa agonia da morte, vê a si mesmo jovem, cantando, e indaga:
- Que porra é essa? Esse cara é muito parecido comigo.
Ao longo do espetáculo, os dois dialogam o tempo todo - ora brigam, ora cantam, ora conversam. O Tim mais velho deve ser interpretado por Serjão Loroza e o mais novo, por Duani (ex-líder do Forróçacana) e que vai viver o cantor também no musical. O próprio Nelson Motta é personagem, assim como Roberto Carlos e Jorge Ben Jor.
- Termina num medley fulminante. Aí é bailão - diz.
Outro livro de Nelson Motta - o romance policial "Bandidos e mocinha" - também vai ganhar as telas de cinema. A produtora Paula Barreto comprou os direitos da obra. O roteiro está sendo preparado, e Luana Piovani já foi testada para o papel da delegada Marlene. Ele igualmente vendeu os direitos de "Ao som do mar é à luz do céu profundo", com uma trama que mistura amor, suspense, erotismo e humor no Rio de Janeiro dos anos 1960, para o diretor Roberto Mader ( de "Operação Condor"), que já começou a captar patrocínio.
Cinema na formação
Ainda há mais cinema à vista. O jornalista escreveu junto com Patricia Andrade e Johnny Araújo o primeiro tratamento do filme "Minha hora é agora", sobre o início da carreira de Marcelo D2 e Planet Hemp, que vai ser dirigido por Araújo.
A transposição dos livros para o cinema não é planejada.
- Quando escrevo, nunca penso em filme. Acho que isso atrapalha. Você não consegue fazer nem literatura nem roteiro de cinema. São linguagens diferentes.
O que acontece, diz, é que sua ligação com o cinema se reflete naturalmente em sua escrita.
- O cinema é fundamental na minha formação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário