1 de junho de 2011

' Novo síndico no condomínio'




sindico


Tarimbados, os caciques peemedebistas perceberam que a desarticulação política do Palácio do Planalto criou um vácuo, que eles estão procurando preencher rapidamente. A inaptidão de Dilma para a arte da política e o enfraquecimento do seu principal articulador, Antônio Palocci, levou a cúpula do PMDB a disparar uma operação com o objetivo de fazer de Michel Temer o síndico do condomínio governista.

Mudança brusca 

Houve uma brutal alteração nas relações entre os peemedebistas e a turma que até então mandava no Palácio do Planalto, leia-se Dilma e alguns petistas, como Palocci. No começo do governo, os peemedebistas ficaram num segundo plano e foram perdendo cargos e postos estratégicos para o PT. 

Antes, a presidente se comportava de forma imperial, cabendo aos partidos aliados, entre os quais o PMDB, seguir as suas ordens e votar de acordo com sua vontade. O auge desta relação submissa foi a votação do salário mínimo. Temer e a sua turma engoliram a seco a prepotência do Palácio do Planalto e ficaram esperando a sua vez e sua hora. 


Coordenação política lipoaspirada 

Ela veio muito antes do que imaginavam, com a combinação da votação do Código Florestal e a revelação do enriquecimento sideral de Antônio Palocci, via uma “consultoria” mais do que suspeita de tráfico de influência e de informações reservadas do governo.

De uma hora para outra, ficou exposta a fragilidade dos articuladores da presidente. Palocci quis dar uma de mandão para cima de Temer e se deu mal com aquele seu telefonema à viva-voz, ameaçando demitir os ministros do PMDB. O blefe não funcionou e teve que dar o dito por não dito, pedindo desculpas a Temer. 


Lula passa por cima dos liderados 

Lula percebeu que o barco governista estava fazendo água e acintosamente apresentou-se como o salvador da Pátria. Assumiu publicamente o comando das articulações políticas. Isto fez um bem danado para o ego do caudilho, mas foi um desastre para Dilma, pois deixou evidenciado o quanto ela é frágil politicamente e o quanto depende de Lula. E desautorizou a coordenação política do Planalto e do governo no Congresso.

Até Ciro Gomes percebeu isto e considerou como um erro as articulações públicas de Lula com a turma do PMDB: Temer, Sarney, Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves & Cia. Aliás, o cearense foi preciso: “se o ex-presidente quiser ajudar, que o faça por telefone, discretamente”. 


PMDB ocupa o vácuo
 

O PMDB percebeu então que a articulação política do governo Dilma tinha ido para o vinagre. Palocci estava enroscado, o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, é visto como um zero à esquerda e não há estrelas de primeira grandeza para substituí-los. O mais cotado para suprir a lacuna de Palocci é Gilberto Carvalho, uma espécie de ouvido e olhos de Lula no Palácio do Planalto. Mas ele também é um desastre em matéria de articulação política. Ontem ele foi de uma inabilidade ímpar, ao afirmar que “o Executivo não depende do Congresso para trabalhar”.

Os peemedebistas perceberam que chegou a hora de falar grosso e mandaram recados diretos para Dilma: não aceitam retaliações e vão votar de acordo com o interesse de suas bancadas, na Câmara e no Senado. De forma explícita, passaram a se reunir no gabinete de Temer, mostrando que consideram o vice-presidente como o articulador de fato, da base governista.
 

Novo síndico no prédio 

Inverteram-se assim os papéis no condomínio governista. O PMDB passou a assumir o papel principal, cabendo ao PT um papel subalterno. Michel Temer passou a ser o síndico do pedaço.

Aliás, isto está claro nas inserções televisivas do PMDB, que foram ao ar ontem à noite, nas quais tudo o que deu popularidade a Lula é apresentado como obra do PMDB.

Como o PT passa por um mau momento e ninguém se entende, Temer vai ocupando o espaço vazio. Mas é suficientemente esperto para não promover a queda de Palocci ou mesmo de Luiz Sérgio. Para os caciques peemedebistas é ótimo que os articuladores do Palácio do Planalto estejam enfraquecidos e na fritura, pois assim Dilma fica prisioneira dos profissionais da política.

Michel Temer é muito mais sutil do que Garotinho e não apela para a chantagem aberta e descarada. Mas sabe mostrar ao Palácio do Planalto quem está mandando na base governista. 

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