MARCUS ALCOFORADO *
É da tradição da política externa brasileira pautar-se por duas questões essenciais: exercer o pragmatismo responsável na defesa dos interesses nacionais e a observância aos valores da democracia, da autodeterminação dos povos e da defesa dos direitos humanos. Obama chega ao país, no momento em que esta boa tradição começa a ser retomada.
Durante os oitos anos do governo Lula o Brasil foi prejudicado pela adoção de uma política baseada no antiamericanismo infantil e no terceiro-mundismo. Nosso caudilho adotou uma postura que combinou a bravata com a priorização de relações com ditadores e regimes não democráticos da África, Oriente Médio e da América do Sul, na crença que por aí se tornaria numa alternativa à hegemonia dos Estados Unidos e das potências da União Europeia.
As relações íntimas com regimes ditatoriais nos levou ao isolamento internacional e em nada contribuíram para que o Brasil ampliasse a sua participação no mercado mundial. Em vez de ter a defesa dos interesses nacionais como centro, a política externa brasileira priorizou as “afinidades ideológicas” com projetos terceiro-mundistas, como o “bolivarianismo” de Hugo Chaves e ignorou os valores universais, sobretudo quando as violações aos direitos humanos foram cometidos por regime amigos, como aconteceu em relação ao Irã e à ditadura de Fidel Castro.
Claro que ao adotar uma política aventureira, o governo Lula levou o Brasil a se distanciar dos Estados Unidos e a tomar posições antagônicas das adotadas pela principal potência mundial.
Pautado por uma visão mais profissional e pragmática, o novo chanceler brasileiro, Antônio Patriota, restabeleceu pontes com os Estados Unidos. Para isto foi essencial a inflexão da posição do governo brasileiro em relação a regimes violadores dos direitos humanos. Positivamente, o Brasil votou, na ONU, pela aplicação de sanções ao ditador Kadafi e foi favorável a que ele seja julgado pelo Tribunal Internacional de Haia, onde será acusado de cometer crimes contra a humanidade.
A inflexão da política externa brasileira deu novo sentido à visita de Obama, que não pode ser vista apenas como um ato rotineiro da diplomacia. Concretamente, esta inflexão abriu espaço para que os dois países avancem na materialização de objetivos estratégicos comuns, o que pode acontecer com a assinatura de alguns acordos, entre os presidentes dos dois países.
Do ponto de vista estratégico, o Brasil tem um problema a resolver: encontrar um mercado externo robusto para o petróleo oriundo da camada do pré-sal. Este é o caminho para evitar que este petróleo se destine ao mercado interno e altere, com isso, a matriz energética do nosso país. Não é do nosso interesse alterar uma matriz que tem como fonte principal de energia as hidroelétricas e que domina a tecnologia da produção, em larga escala, do etanol – uma energia limpa e renovável.
A crise do mundo árabe deixa evidenciado o quanto é arriscado para os Estados Unidos depender do petróleo do Oriente Médio, do Golfo Pérsico ou do Norte da África, assim como é uma operação de risco a maior potência do mundo depender do humor de Hugo Chávez. O Brasil, um país de democracia estável, pode ser o parceiro que os Estados Unidos estão à cata, sobretudo ao ficar em sintonia com as nações civilizadas.
Dito de outra forma: o Brasil pode ser o parceiro que faltava aos Estados Unidos, na questão energética, fornecendo petróleo do pré-sal, mas também Etanol, fonte que tende a aumentar de importância em função do desastre nuclear japonês. É possível que, com a visita de Obama, o governo americano acelere a assinatura de um acordo que leve à compra antecipada de petróleo. O Brasil já assinou um acordo deste tipo com os chineses. E é graças a este acordo que a China é o maior importador de petróleo brasileiro.
Estamos, portanto, diante de um exemplo clássico do pragmatismo responsável que deve imperar na política externa brasileira. É possível que ele dê novos frutos e que Obama faça alguma sinalização positiva em relação à aspiração do Brasil de ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Ainda que esta sinalização não seja tão explícita quanto o foi a declaração de Obama na sua visita à Índia, mesmo assim ela será um gesto positivo e deve estimular o governo brasileiro a ser mais enfático na defesa dos direitos humanos e da democracia.
É bastante compreensível que Obama seja cauteloso nesta sinalização. Afinal de contas, o governo Dilma ainda tem que passar por dois testes importantes: como se comportará na nova votação da ONU sobre a violação dos direitos humanos praticados pela ditadura fundamentalista do Irã e qual será a sua política em relação caudilhismo-autoritário de alguns países da América do Sul. Há uma zona de incerteza sobre quem ditará as cartas nesta questão. Se o profissionalismo do chanceler Antônio Patriota, ou o “ideologismo” do assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia.
* FONTE: < http://pitacos-politicos.zip.net/ >
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