21 de junho de 2011

'Cavendish-Cabral-Eike: tráfico de influência?'


A DÚVIDA É DO DEPUTADO CHICO ALENCAR, SOBRE AS RELAÇÕES DELICADAS DO GOVERNADOR DO RIO COM O MAIOR EMPREITEIRO DO ESTADO E O MAIOR DOADOR DE SUA CAMPANHA; ANTHONY GAROTINHO AFIRMA QUE “NOS EUA, RESULTARIA EM RENÚNCIA”

Cavendish-Cabral-Eike: tráfico de influência?
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o empresário Fernando Cavendish estão de luto. O dono da Delta Engenharia perdeu a mulher, Jordana, o enteado Lucas, de 3 anos, e a cunhada Fernanda, que estava com seu filho Gabriel, de 2, também morto na queda do helicóptero, sexta-feira, na região de Porto Seguro, Bahia. O governador, por seu lado, pediu licença oficial do cargo em sinal de luto. A namorada de seu filho Marco Antonio, Mariana, também perdeu a vida no acidente. Outras outras duas pessoas – Norma, a babá das crianças, e o piloto Marcelo – igualmente morreram.



“Foi uma tragédia total, uma desgraça”, definiu o deputado federal Chico Alencar, do PSOL fluminense, à Brasil 247. O fato, no entanto, revelou a proximidade entre Cabral e Cavendish, o que não se sabia até então. À medida em que o dono da Delta Engenharia é o principal empreiteiro de obras públicas do Rio de Janeiro atualmente, com mais de R$ 1 bilhão em contratos com o Estado, transpareceu um escândalo político. Até a tragédia, o governador Cabral se negava a admitir que sequer conhecia Cavendish. Nos primeiros momentos após a queda do aparelho, Cabral chegou a transmitir que nem estava em Porto Seguro, para onde teria ido, em sua primeira versão, exclusivamente com o sentido de manter-se próximo das buscas pelos corpos. Essa história se mostrou fantasiosa. Ontem, soube-se que Cabral viajou ao lado de Cavendish e os demais acompanhantes num jatinho de propriedade do empresário Eike Batista, o homem mais rico do Brasil. Todos foram à Bahia comemorar o aniversário do empreiteiro, cujos festejos, naturalmente, foram suspensos assim que a tragédia ocorreu.
Por que Cabral faltou com a verdade? Qual é a sua verdadeira ligação com o empreiteiro Cavendish, cujos negócios no Rio cresceram 655%, em volume, durante a gestão, até aqui, de Cabral? Por que, por outro lado, Eike Batista, que também tem uma série de negócios relacionados ao governo do Rio e foi o maior doador da campanha de reeleição de Cabral, com R$ 750 mil, emprestou seu jatinho a eles?
“Toda essa proximidade dá margem à justa suspeita de tráfico de influência”, diz o deputado Alencar. "Primeiro, lamento muito todo o ocorrido, mas fico consternado por saber dessas relações indesejáveis, da proximidade errada para quem ocupa uma função pública”, completou. "Com todo respeito às famílias, para além do luto e da dor há uma alta autoridade pública do estado do Rio de Janeiro recebendo favores de financiador de campanha, no caso de Eike Batista, e do maior vencedor de licitações para obras no estado (Cavendish e a sua Delta)", completou o deputado. Para Alencar, “esse caso lembra um pouco o que tanto se criticou em Antônio Palocci (ex-ministro chefe da Casa Civil). Ali, ninguém ficou sabendo quais eram os seus clientes, mas, no caso presente, já se sabe que o governador é muito amigo de homens que se beneficiam de contratos com o governo que ele comanda". 
Alencar continua: "O que derrubou o ex-chefe da Casa Civil foram consultorias que poderiam se beneficiar do fato de Palocci ser o deputado federal do principal partido do governo na época. No caso do Cabral, não precisa nem fazer essa suposição. Com essa absoluta proximidade com empreiteiros e poderosos, o governador tira de si a condição de administrador isento na contratação de obras públicas". À 247, o parlamentar prosseguiu: "Esse nível de vínculo e proximidade com empresários que disputam o dinheiro público de obras do Estado não é de nenhum modo conveniente. Favorece, é claro, o tráfico de influência”. Ele concede tempo ao luto do governador, mas vai exigir explicações. “Evidentemente esperamos que, mais para frente, o governador explique isso e se afaste desse universo, que é muito sedutor", cobrou Alencar. Ele lamentou que, de início, a assessoria de imprensa do governo do Estado tenha mentido sobre a presença do governador na Bahia.
O ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ) também comentou o caso em seu blog pessoal. "Com todo o respeito, mas se isso é nos Estados Unidos, na França ou na Inglaterra, Cabral estaria perdido, a pressão da mídia e da opinião pública certamente o levariam à renúncia. Mas aqui é o Rio de Janeiro. De qualquer forma, depois da licença, vai ter que se explicar", escreveu.
http://brasil247.com.br/pt/247/poder/5446/Cavendish-Cabral-Eike-tr%C3%A1fico-de-influ%C3%AAncia.htm

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