'Uma cidade reage a uma provocação com arte, maestria. É de chorar'
É emocionante, é de arrepiar, de fazer os olhos marejar. Há muito tempo eu não via uma coisa tão absolutamente emocionante.
Não deixem de ver o clip de quase dez minutos em que uma cidade inteira se une para cantar “American Pie”, do grande (e muito menos conhecido do que deveria) Don McLean:
A história é a seguinte: um artigo da revista “Newsweek”, uma das mais famosas do mundo, classificou a cidade americana de Grand Rapids, no Michigan, de “moribunda”.
Revoltados, moradores e autoridades da cidade se mobilizaram e, em vez de apelar aos tribunais, recorreram à… música. Isso mesmo! Música.
No último dia 22, a cidade parou (literalmente) para gravar um clipe da música “American Pie”, de Don McLean. Entre bandas, desfiles, carreatas, efeitos especiais, helicópteros e até um casamento, 5 mil pessoas foram envolvidas.
O resultado foi uma resposta à altura e um filme que críticos americanos já estão considerando como “o maior clipe de todos os tempos”…
É um show – de civilidade, de força política, de vontade, de determinação. E de cinema: é tudo um único plano-seqüência! É de deixar Brian De Palma babando de inveja.
Uma maravilha de canção, o hino de uma geração
Muito provavelmente eu não estaria tão emocionado se fosse outra a música que os habitantes de Grand Rapids tivessem escolhido. “American Pie” é uma das minhas canções favoritas. Foi lançada primeiro em compacto, em 1971, mas era tão longa – 8m37s – que teve que ser dividida em duas partes, ocupando os dois lados do disco. Depois seria a faixa-título do LP do cantor e compositor daquele ano. São dez faixas, apenas – todas ótimas. O compacto ficou 17 semanas na lista dos mais vendidos da Billboard – e, durante quatro semanas, no primeiro lugar.
Em 2000, Madonna gravaria a música, para a trilha sonora de seu filmeThe Next Best Thing, no Brasil Sobrou Pra Você. É uma gravação boazinha – embora a estrela tenha cometido o sacrilégio de cortar fora várias estrofes da canção.
O dia em que a música morreu, para Don McLean, foi o dia em que ele soube que Buddy Holly tinha morrido, num acidente de avião, no dia 3 de fevereiro de 1959, aos 23 anos de idade.
“That will be the day that I die”, que McLean repete, é uma citação direta de uma das diversas belas, inocentes, juvenis, maravilhosas canções compostas por Buddy Holly em sua passagem rápida pela Terra, “That will be the day”.
Buddy Holly influenciou meio mundo que veio depois. Francis Ford Coppola o homenagearia com o filme Peggy Sue Got Married– o mesmo título de uma música de Buddy Holly. O filme, de 1986, com uma Kathleen Turner deslumbrante e um Nicolas Cage bebê, no Brasil se chamou Peggy Sue, Seu Passado a Espera.
Os Beatles gravaram uma de suas músicas, “Words of Love”, no disco de 1964, Beatles For Sale – e é um cover literal, é a reprodução idêntica da interpretação de Buddy Holly, exatamente a mesmo entonação de voz, os mesmos acordes da guitarra.
Don McLean homenageia Buddy Holly – assim como Coppola, os Beatles, Paul Simon…
Paul McCartney é tão apaixonado por Buddy Holly que comprou os direitos das músicas do jovem músico texano, para administrá-los em sua empresa, a MPL Communications, Ltd. Mais tarde os direitos das músicas dos Beatles seriam comprados por Michael Jackson. E Paul Simon falaria disso tudo em uma beleza de canção, “Old”, em seu disco de 2000, You’re the one:
The first time I heard “Peggy Sue”
I was 12 years old
Russians up in rocket ships
And the war was cold
Now many wars have come and gone
Genocide still goes on
Buddy Holly still goes on
But his catalog was sold
A primeira vez que Simon ouviu “Peggy Sue”, tinha 12 anos, e a guerra era fria; muitas guerras vieram e se foram, o genocídio continua, Buddy Holly ainda está aí, mas seu catálogo foi vendido.
Acho uma delícia essa coisa das homenagens de artistas a outros artistas. E “American Pie”, um hino de amor ao rock’n'roll de Buddy Holly, é cheia de citações a músicos, atores – “o casaco que ele tomou emprestado de James Dean”. E em torno da música formou-se um mundo de citações e coincidências, um novelo fascinante, que tenho vontade de juntar aqui nestas mal traçadas, minutos depois de rever pela segunda ou terceira vez o clip que o povo de Grand Rapids fez como desagravo àNewsweek.
Uma dessas coincidências é fascinante: em dezembro de 1980, quando John Lennon foi assassinado, a Newsweek fez uma capa brilhante, uma bela foto de John em preto-e-branco, o nome dele, as duas datas, 1940-1980. A Time, a rival que a Newsweeknunca conseguiu suplantar, deu na capa um desenho colorido de John, com o título “When the Music Died”.
A rival da Newsweek usou a frase de “American Pie” para homenagear John Lennon! E agora, em 2011, a Newsweek chamou Grand Rapids de “moribunda”, provocando essa reação espetacular de toda a cidade, usando exatamente a mesma música! (A memória me traiu: achei que a frase “When the Music Died” tivesse sido usada pelaNewsweek, o que seria mais fascinante ainda. Mas não: foi a Time.)
Releve-se o tom patrioteiro – é uma beleza de canção
Releve-se o tom patrioteiro – é uma beleza de canção
Há um tom patrioteiro um tanto bobo, um tanto juvenil, na letra que Don McLean escreveu – de revolta contra a invasão do rock britânico, Beatles, Rolling Stones. Mas a beleza da música é tão fabulosa que dá pra gente esquecer essa coisa patrioteira. Don McLean fez o hino de uma época, de uma geração, de uma nação.
A letra está coalhada de belíssimas imagens, de sacadas poéticas – “Uma geração perdida no espaço”. “Vi Satã rir de felicidade no dia em que a música morreu.” “Você acredita em Deus lá em cima? Você acredita em rock’n’roll? Acha que ele pode salvar sua alma? Você pode me ensinar a dançar bem devagarinho?”
Aí vai a letra:
American Pie
A long, long time ago…
I can still remember
How that music used to make me smile.
And I knew if I had my chance
That I could make those people dance
And, maybe, they’d be happy for a while.
But february made me shiver
With every paper I’d deliver.
Bad news on the doorstep;
I couldn’t take one more step.
I can’t remember if I cried
When I read about his widowed bride,
But something touched me deep inside
The day the music died.
So bye-bye, miss american pie.
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
And them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
Singin’, “this’ll be the day that I die.
“this’ll be the day that I die.”
Did you write the book of love,
And do you have faith in God above,
If the Bible tells you so?
Do you believe in rock ’n roll,
Can music save your mortal soul,
And can you teach me how to dance real slow?
Well, I know that you’re in love with him
`cause I saw you dancin’ in the gym.
You both kicked off your shoes.
Man, I dig those rhythm and blues.
I was a lonely teenage broncin’ buck
With a pink carnation and a pickup truck,
But I knew I was out of luck
The day the music died.
I started singin’,
“bye-bye, miss american pie.”
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
And singin’, “this’ll be the day that I die.
“this’ll be the day that I die.”
Now for ten years we’ve been on our own
And moss grows fat on a rollin’ stone,
But that’s not how it used to be.
When the jester sang for the king and queen,
In a coat he borrowed from james dean
And a voice that came from you and me,
Oh, and while the king was looking down,
The jester stole his thorny crown.
The courtroom was adjourned;
No verdict was returned.
And while lennon read a book of marx,
The quartet practiced in the park,
And we sang dirges in the dark
The day the music died.
We were singing,
“bye-bye, miss american pie.”
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
And singin’, “this’ll be the day that I die.
“this’ll be the day that I die.”
Helter skelter in a summer swelter.
The birds flew off with a fallout shelter,
Eight miles high and falling fast.
It landed foul on the grass.
The players tried for a forward pass,
With the jester on the sidelines in a cast.
Now the half-time air was sweet perfume
While the sergeants played a marching tune.
We all got up to dance,
Oh, but we never got the chance!
`cause the players tried to take the field;
The marching band refused to yield.
Do you recall what was revealed
The day the music died?
We started singing,
“bye-bye, miss american pie.”
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
And singin’, “this’ll be the day that I die.
“this’ll be the day that I die.”
Oh, and there we were all in one place,
A generation lost in space
With no time left to start again.
So come on: jack be nimble, jack be quick!
Jack flash sat on a candlestick
Cause fire is the devil’s only friend.
Oh, and as I watched him on the stage
My hands were clenched in fists of rage.
No angel born in hell
Could break that satan’s spell.
And as the flames climbed high into the night
To light the sacrificial rite,
I saw satan laughing with delight
The day the music died
He was singing,
“bye-bye, miss american pie.”
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
And singin’, “this’ll be the day that I die.
“this’ll be the day that I die.”
I met a girl who sang the blues
And I asked her for some happy news,
But she just smiled and turned away.
I went down to the sacred store
Where I’d heard the music years before,
But the man there said the music wouldn’t play.
And in the streets: the children screamed,
The lovers cried, and the poets dreamed.
But not a word was spoken;
The church bells all were broken.
And the three men I admire most:
The father, son, and the holy ghost,
They caught the last train for the coast
The day the music died.
And they were singing,
“bye-bye, miss american pie.”
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
And them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
Singin’, “this’ll be the day that I die.
“this’ll be the day that I die.”
They were singing,
“bye-bye, miss american pie.”
Drove my chevy to the levee,
But the levee was dry.
Them good old boys were drinkin’ whiskey and rye
Singin’, “this’ll be the day that I die.”
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